O Fenômeno das Lojas Autônomas: O que o Brasil pode aprender com a Ásia e suas inovações
Imagine entrar em uma loja, pegar os produtos desejados e simplesmente sair, sem enfrentar filas ou passar por caixas. Este cenário, que parece futurista para muitos brasileiros, já é realidade [continue lendo]
Por
Ramon Ribeiro
07/06/2025
Atualizado às 23:42
30 July 2022, Cologne, Germany: girl customer scanns and pays for bottle of juce at an automated self-service checkout terminal in Rewe supermarket
Imagine entrar em uma loja, pegar os produtos desejados e simplesmente sair, sem enfrentar filas ou passar por caixas. Este cenário, que parece futurista para muitos brasileiros, já é realidade cotidiana em diversas cidades asiáticas. E o mais surpreendente: esta revolução está mais acessível ao varejo brasileiro do que se imagina.
O boom das lojas autônomas na Ásia
Na movimentada estação de metrô de Seul, na Coreia do Sul, Kim Min-ji faz uma pausa em sua rotina matinal. Em menos de 40 segundos, ela entra em uma loja de conveniência, pega um café e um sanduíche, e sai sem interagir com nenhum funcionário ou parar em um caixa. Câmeras e sensores identificam os produtos escolhidos, e o valor é automaticamente debitado de sua conta digital.
“Economizo pelo menos 10 minutos todos os dias evitando filas. Para quem tem uma rotina corrida como a minha, isso faz toda diferença”, explica Kim.
Este não é um caso isolado. Da China ao Japão, passando por Singapura e Coreia do Sul, as lojas autônomas – também chamadas de unmanned stores ou lojas sem caixas – estão transformando a experiência de compra e os modelos operacionais do varejo. Segundo dados da Asian Retail Innovation Association, o número de lojas autônomas na Ásia cresceu 340% nos últimos três anos, com mais de 15.000 unidades operando atualmente. Só na China, gigantes como Alibaba e JD.com já operam centenas de lojas completamente automatizadas.
Por que a Ásia lidera esta revolução?
O sucesso das lojas autônomas na Ásia pode ser atribuído a uma combinação de fatores:
Cultura digital avançada: Países como China, Coreia do Sul e Japão possuemaltas taxas de adoção de tecnologias digitais e pagamentos móveis.
Densidade populacional: Grandes centros urbanos com alta densidade populacional tornam o modelo economicamente viável mais rapidamente.
Investimento em tecnologia: Empresas asiáticas investem pesadamente em reconhecimento de imagem, IA e IoT aplicados ao varejo.
Apoio governamental: Diversos governos asiáticos oferecem incentivos para inovação no varejo como parte de estratégias de cidades inteligentes.
“O varejo asiático tem uma mentalidade de experimentação constante. Eles não esperam a tecnologia estar perfeita para implementá-la”, explica Dr. Takashi Yamamoto, especialista em inovação no varejo da Universidade de Tóquio.
Modelos de lojas autônomas e suas aplicações
As lojas autônomas asiáticas não seguem um modelo único. Diferentes abordagens foram desenvolvidas para atender a diversos segmentos e necessidades:
1. Modelo Grab-and-Go (Pegue e Leve)
Exemplificado pelo Amazon Go e pelo Alibaba Hema, este modelo usa câmeras com visão computacional e sensores de peso nas prateleiras para rastrear os produtos escolhidos.
Na China, a rede BingoBox opera mais de 500 lojas de conveniência totalmente automatizadas, onde os clientes entram escaneando um QR code, escolhem seus produtos e saem sem passar por caixas.
2. Modelo de Vending Machines Avançadas
No Japão, a empresa Telexistence desenvolveu o TX SCARA, um sistema robótico que reabastece máquinas de venda automática. Combinado com IA, o sistema prevê quais produtos precisam ser repostos e quando.
A rede FamilyMart, uma das maiores do Japão, já implementou este sistema em dezenas de lojas, reduzindo em 72% o tempo gasto com reposição.
3. Modelo Híbrido com Atendimento Seletivo
Em Singapura, a rede Cheers opera lojas onde processos rotineiros são automatizados, mas mantém funcionários para serviços de valor agregado, como recomendações e assistência.
“Não se trata de eliminar o elemento humano, mas de redirecioná-lo para onde realmente agrega valor.”
— Lim Kok Thay, CEO da Cheers
O cenário brasileiro: desafios e oportunidades
Enquanto a Ásia avança, o Brasil ainda dá os primeiros passos. Algumas iniciativas já surgiram:
Zaitt, pioneira com minimercado autônomo em São Paulo (2019)
Carrefour, que testou loja autônoma em sua sede em 2023
Startups como Onii e SmartRetail, que oferecem soluções adaptadas
Mas ainda enfrentamos barreiras:
Custo da tecnologia
Infraestrutura digital limitada
Desafios regulatórios (como LGPD)
Impacto social e desemprego
O caminho brasileiro: automação gradual e adaptada
Especialistas defendem que o Brasil não deve copiar o modelo asiático, mas adaptar os conceitos de forma escalável e progressiva.
“Começar com pequenas automações permite que tanto a equipe quanto os clientes se adaptem gradualmente, além de diluir o investimento ao longo do tempo.” — Ricardo Garrido, consultor de inovação no varejo
Plano de 30 dias para automação inicial
Semana 1: Diagnóstico e Planejamento
Identifique gargalos
Estabeleça metas e métricas
Semana 2: Pagamentos Digitais
Implante NFC, QR Code e autoatendimento
Treine a equipe
Semana 3: Automação de Inventário
Utilize código de barras ou RFID
Configure alertas automáticos
Semana 4: Análise e Ajustes
Colete feedback
Faça melhorias com base em dados
Tecnologias acessíveis para o varejo brasileiro
Self-checkout A partir de R$ 15 mil Ex.: Farmácias São João reduziram 40% do tempo de espera
Etiquetas Eletrônicas de Preço A partir de R$ 10 mil Ex.: Supermercado Zona Sul reduziu 85% do tempo de troca de preços
Monitoramento Inteligente com IA A partir de R$ 5 mil Ex.: Riachuelo aumentou 12% em vendas por m²
Assistentes Virtuais e Quiosques A partir de R$ 3 mil Ex.: Leroy Merlin reduziu 30% o tempo de atendimento
O futuro do varejo autônomo no Brasil
Segundo a ABComm, 67% dos varejistas brasileiros pretendem investir em automação nos próximos dois anos. A expectativa é chegar a pelo menos 500 lojas altamente automatizadas no país até 2027.
“O Brasil, quando adota tecnologia, costuma pular etapas.” — Paulo Feijó, Associação Brasileira de Automação para o Comércio
Perguntas para reflexão:
Quais processos da sua loja poderiam ser automatizados?
Como iniciar a automação sem grandes investimentos?
O que mudaria se você cortasse pela metade o tempo gasto com tarefas repetitivas?
“Não é a tecnologia que muda o mundo, mas o que fazemos com ela.” — Jack Ma, fundador do Alibaba